sábado, 21 de abril de 2012

Reciclar é uma arte

Além de representar economia de matéria prima e de energia fornecidas pela natureza

Momento on-line
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Os dicionários ensinam que lixo é todo e qualquer resíduo oriundo das atividades humanas ou gerado pela natureza em aglomerações urbanas. Geralmente, é definido como aquilo que ninguém quer. Contudo, é preciso reciclar esse conceito, deixando de enxergá-lo como uma coisa suja e inútil em sua totalidade. Grande parte do material que vai para o lixo pode e deveria ser reciclada. Uma referência brasileira na arte a partir de materiais reciclados chama-se Frans Krajcberg. Ele é pintor, escultor, gravador, fotógrafo e artista plástico. Polonês naturalizado brasileiro, Krajcberg é militante da causa ambiental, não chama o que faz de trabalho artístico, mas de "memória da destruição".


Telefones e celulares reciclados
Valter Nu

     Tamanha preocupação com a causa ambiental, Krajcberg segue a agenda de encontros mundiais de ecologistas com mais afinco do que o roteiro de bienais e feiras de arte.
O lixo é um indicador curioso de desenvolvimento de uma nação. Quanto mais pujante for a economia, mais sujeira o país irá produzir. É o sinal de que o país está crescendo, de que as pessoas estão consumindo mais. "Um fator preocupante que acontece no início de nossas vidas, aponta um artigo do portal São Francisco, _ “há cinqüenta anos, os bebês utilizavam fraldas de pano, que não eram jogadas fora. Tomavam sopa feita em casa e bebiam leite mantido em garrafas reutilizáveis. Hoje, os bebês usam fralda descartáveis, tomam sopa em potinhos que são jogados fora e bebem leite embalado em tetrapak. Ao final de uma semana de vida, o lixo que eles produzem equivale, em volume, a quatro vezes o seu tamanho.”


     Quando se fala em números, chega a ser assustador acreditar que o Brasil produz em média, 240 mil toneladas de lixo por dia, como aponta dados do Instituto Brasileiro de Geografia e estatística (IBGE) Desse total, apenas dois por cento são reciclados. É apenas nesse quesito que o país se destaca como o 4º maior produtor de lixo do mundo. Apontando o lixo no mundo entre domiciliar e comercial são produzidas, por dia, 2 milhões de toneladas, o que equivale a 700 gramas por habitante de áreas urbanas.
“Essa ideia de produzir arte com material reaproveitado, surgiu quando eu era muito jovem, com apenas dezesseis anos”, lembra o artista multimídia, (como se define) Valter Nu, 36. Apesar de ter cursado três Faculdades, Nu atua como DJ na Noite Paulistana. Sua primeira faculdade foi artes plásticas. As visitas à museus despertaram nele a paixão por materiais que não são comuns nas artes plásticas, como o óleo, o gesso e o bronze. “Na época em que me formei, a questão ambiental não era tão falada, tão famosa, más já chamava a minha atenção”, alertou. Após a sua formação em artes plásticas, foi trabalhar próximo a um aterro sanitário. Ele diz que na época aquela passagem o incomodava profundamente.

    
     Assim como Krajcberg, Nu nasceu com o olhar voltado para as causas ambientais. “Ainda quando estava na Faculdade acreditava que, produzir obras de arte como pretexto para falar de questões sócio-ambientais, seria uma forma de as pessoas observarem mais. No entanto, comecei a usar materiais que tivesse esse “eco,” que falasse de resíduo, de lixo, para que, ao olhar naquela obra, as pessoas reparassem que tudo aquilo são coisas que elas produzem e descartam na natureza,” desabafou Nu.
A questão sócio-ambiental nasceu junto com a sua arte. De ascendência alemã, país com grandes nomes na pintura e na arte, ele é filho de artista plástica. A seleção da matéria-prima para a confecção das suas obras acontece durante as pedaladas. Nu é adepto do ciclismo. “Eu vou olhando e percebendo coisas que vão além da matéria-prima. Meu olho já é educado para esse trabalho. Meus amigos às vezes morrem de vergonha, mas ao andar pelas ruas e surge uma caçamba de lixo eu fico olhando com aquele olhar de desejo. Só que isso, acho eu, vai além de mim. Acredito que se trate de um olhar que a gente traz da vida, de nunca ver uma coisa só como ela é,” ressaltou. Para encontrar uma definição desse “olhar clínico,” Nu destaca uma teoria da semiótica, a sua segunda formação: “temos três idades pra tudo, a primeira idade, é o momento bruto em que você enxerga uma coisa; a segunda idade ocorre quando se tem uma interferência racional, e a terceira idade acontece quando se tem uma interferência cultural. Eu procuro não criar um preconceito no meu olhar,” completou.


     Nu destaca também o consumismo como tema primordial a ser debatido nesse novo século. “A palavra, agora nesse começo de século XXI é: o que consumir. Não podemos nos deixar levar pela ideologia de que a gente é o que consome, deixando de lado os nossos valores e caráter...”. Ao final Nu ressalta que Nos últimos anos, se tem notado uma tendência mundial em reaproveitar cada vez mais os produtos encontrados no lixo para criação ou elaboração de novos objetos, através dos processos de reciclagem. Segundo ele, não há dúvida de que isso representa economia de matéria prima e de energia fornecidas pela natureza. Por essa razão, aponta Nu, o conceito de lixo tende a ser modificado, podendo ser entendido como “coisas que podem ser úteis e aproveitáveis pelo homem”, conclui.






 

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